quarta-feira, 29 de outubro de 2008

PANACEA MUSICALIS - A música escrita no blog do Maldita...















GOGOL BORDELLO

por Ricardo André

A noite vai caindo, cantaram o parabéns já faz mais de uma hora, a cerveja acabando, todo mundo indo embora e os últimos sobreviventes decidindo o que fazer dali em diante: “…parado não dá pra ficar…” diriam os filósofos do pop pátrio.

No mesmo tom, sabia que “Sábado à noite tudo pode mudar.” Insuflado por canções inspiradoras do nível das mencionadas, fui dar no Tim Festival, já meio contrariado, depois de uma tarde de intensas libações alcoólicas.

in loco e meio louco, a inevitável fila andava vagarosa. Em seu lento escoar bovino, a massa humana, na recidivante-espectativa-de-fim-de-semana, adentrava as instalações do evento.

Pois muito bem. Tudo “super”. Coisa muito modernosa. Decoração de conteúdo vanguardista e gosto duvidoso. As celebridades da ocasião eram disputadas a tapa por “papa-rasos” sempre a postos para espocar o flash ao menor sinal de presença de algum starlet global. Os figurinos dos passantes iam do clássico ao “transbordante” num virar de pescoços. A meu ver tudo muito pseudo-tudo.

Súbito. Barulho. De repente começa um show numa das diversas tendas. A massa é atraída pelo som. No palco, o Gogol Bordello, banda nova-iorquina formada por não americanos (Ucrânia no gogó; Rússia no violino e no acordeão; Israel na guitarra; Etiópia no baixo; um China, Tailândia e Equador na percussão; um japo-romeno noutro acordeão; EUA só na bateria), cujo nome é uma fusão do pensador russo Nikolai Gogol com a palavra bordel não me pergunte em que língua!

Só vim saber o nome da banda, depois do show. Na hora, impossível não ficar magnetizado pelo cara do microfone: uma mistura de Borat com Iggy Pop, com um moustache negro de dar inveja ao Barão do Rio Branco! Que p*** é essa? - indaguei aos colegas.

O som alto era incompatível com a acústica do local, dificultando a compreensão do idioma em que eram cantadas as músicas. Mas era evidente que não se tratava de mais uma american punk rock band, nem nada emo, nem nada cool, nem nada fashion... enfim, nada ordinário.

Lembro de pensar: isso é um caldo de Clash, com Gipsy Kings, somado a algum ska, reggae, pitadas de baião e coloridos de Manu Chao, tudo permeado por uma atitude nitidamente punk, a não ser pela preocupação performática, muito embora sem qualquer polidez. Desconfiei de mim mesmo, já que tudo diferente, rápido, loud e desleixado sempre acaba por soar meio punk.

Impactado pela apresentação, cheguei mesmo a dar uns passinhos animados e a “bater na palma da mão” só pra interagir e ver qual era... Bem ao meu lado, adolescentes vestidos de pirulito pulavam freneticamente, em franca demonstração de que não é só o Araketu que, quando toca, deixa todo mundo pulando que nem pipoca! É de Gogol a frase: "Sei que meu nome será mais feliz que eu." A depender da empolgação dos teenagers, ele tinha razão...

Não vi o show todo. Cinco ou seis músicas depois, o calor e a sede me expulsaram do panelão, de onde saí com a certeza de que valeria um “confere” mais atento no som dos caras.

Qual não foi minha surpresa ao constatar, no dia seguinte, que os Gogol dão ao som o rótulo de gypsy punk e que, no myspace, a indicação das influências é encabeçada justamente pelo Clash. (Será que eu levo mesmo jeito para o colunismo musical?!) Eu já tinha ouvido falar no acid pagode e no funk progressivo, e já nem me espantei quando vieram falar de um samba de copa, um contraponto ao samba de raiz, muito em voga atualmente. Mas gypsy punk pegou na veia!

O fato é que o evento valeu pelo Gogol Bordello. Conferir não será perda de tempo. A banda confirma que o futuro da música está inevitavelmente apoiado na fusão de estilos e, longe de soar como mais do mesmo, apesar de terem se reunido e começado em Nova York em 1999, o Gogol desloca os holofotes para longe da America, seja pelo nome da Banda, seja pelas influências sonoras, seja pela origem etnográfica de seus membros.

Se tem futuro a banda eu não sei, mas dissera Nikolai Gogol: "A única coisa que vale a pena é fixar o olhar com mais atenção no presente; o futuro chegará sozinho, inesperadamente. É tolo quem pensa no futuro antes de pensar no presente."

Voilà!

6 comentários:

Anônimo disse...

Ricardo,esses panlões musicais ensurdecedores são presente acústico do nosso RJ desde o circo voador,passando pelo péssimo som do rock in rio 1 e da fundição progresso, na lapa. Não vi o show, mas sua narrativa é dez!valeu!

Anônimo disse...

Huhuhuha...sensacional um som meio tribal e indelevel... sei lá o que ´pe indelevel mas quis escrever isso. Já ouvi falar dos caras, meio barro meio tijolo, mas a parte do meio ligado foi ótima...abraços, cara!

Anônimo disse...

Nossa, esse teopr alcólico era alto mesmo? olha o bafômetro...rs, que penaque nem vi esse som!

Impasse Livre disse...

ricardo, você como sempre inebriante em seus posts, com um colunismo musical magno e ímpar, muito contribuyindo para o brilhantismo eclético de nosso blog. sou seu fã, de hoje e desempre, irmão. Tava meio ausente, mas agora tô por aí, ligado não nesse som, que não ouvi, mas no rtock maldita!!!Abraços, leandro Carvalho

Anônimo disse...

Putz, Gypsi Punks, me lembrou Gypsy Kings e um som cigano ...agora que globalização louca essa banda: russo, americanop, sei lá mais o que e tocnando no brasil...rs...vou até pesquisar mais dos caras nos links que colocou aqui...Malditinhos, eu adoro o panacea!

João Victor Aquino Ferreira de Souza disse...

caralho, tá ótimo esse texto.

Vi o show também, acho que todo mundo se espantou quando viu. Uma misturada do cacete, um velhinho de rabo de cavelo pulando e tocando violino, umas mulheres dançando, um louco cantando. Nossa, muito bom mesmo.

Perfeito!! Você esta plugado no Maldita Futebol Clube...Tá na boa, tá na área!!

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