Não poderia deixar de prestar minha homenagem ao Armando Nogueira. Mesmo tendo escolhido de maneira errônea o seu time de coração, a sua escrita era única e digna de reconhecimento. Na verdade tinha até outros temas para fala de extrema relevância Rubro-Negra, mas resolvi explorar este assunto, por se tratar de um dos maiores cronistas esportivos que o país viu. Cronista de um tempo em que a escrita valia muito. Em que a crônica esportiva era parecida com a emoção e a paixão despertada pelo futebol. Futebol e poesia, esta era a tônica dos grandes jornalistas.
Destaco os três que considero os maiores da história: João Saldanha, Armando Nogueira e Nelson Rodrigues. Os dois primeiros botafoguenses e o último tricolor. Vocês devem estar se perguntando o motivo de citar cronistas que torciam para outros times. Mas a grande verdade é que eles sempre se renderam ao amor, à paixão e à força do Rubro-Negro Mais Querido do Mundo.
Quem nunca se arrepiou ao ler as palavras do Nelson Rodrigues descrevendo o poder do Manto Rubro-Negro? “Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E, diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável.”
Quem nunca se emocionou com a crônica do Armando Nogueira sobre a despedida do nosso rei Zico? “Cantemos, Maracanã, teu filho ilustre, relembrando em comunhão os dribles mais vistosos, os passes mais ditosos, os gols mais luminosos desse fidalgo dos estádios que tem uma vida cheia de multidões. Louvemos o poeta Zico que jogava futebol como se a bola fosse uma rosa entreaberta a seus pés.”
Apesar de serem torcedores de outros clubes, a inspiração deles vinha do Flamengo. O Flamengo que inspira grandes poetas, grandes profissionais, inspira os verdadeiros amantes do futebol. E mesmo torcendo para outros clubes, conseguiram expressar de maneira singular a paixão do torcedor Rubro-Negro e definir de forma perfeita a força que nosso Manto possui. Ontem, quando soube da morte do Armando, fiquei triste. Vejo as notícias esportivas, a maneira como o esporte é explorado hoje pela imprensa, de uma forma pouco criativa, sem emoção, de maneira fria e sem identificação com o torcedor. Claro que há as exceções, de grandes profissionais que ainda existem em nossa imprensa e que não citarei nomes para não cometer injustiças. Mas profissionais como ele, Nelson Rodrigues e João Saldanha estão cada vez mais escassos e em extinção nos noticiários esportivos.
A morte do Armando representa muito mais que a morte de um ser humano, de um semelhante, ou de um profissional. A morte do Armando representa a extinção de uma imprensa esportiva romântica, criativa, que arrancava suspiros, emoção e felicidade de quem lia ou ouvia. Uma imprensa que falava do futebol de uma forma mais apaixonada, verdadeira e não apenas de uma maneira estática, fria e pouco empolgante. Hoje ainda vejo excelentes profissionais, mas Armando se foi e com ele um pedaço da história, um pedaço do futebol falado, escrito, poético, um pedaço do futebol arte, literalmente.
SRN